NÃO PODEMOS DISSOCIAR A HISTÓRIA DAS CAVES VELHAS DA HISTÓRIA DE JOÃO CAMILLO ALVES

Nascido no seio de uma família com uma pequena Casa Agrícola, em Bucelas, no ano de 1858, numa época particularmente difícil para o setor vitivinícola em Portugal, agravada a partir de 1860 pela chegada da filoxera, que devastava vinhas por todo o território.


João Camillo Alves

Transporte das pipas de vinho em carros de bois.

Apesar do panorama desolador, João Camillo Alves destacou-se pelo espírito empreendedor. Após terminar a escola primária, estabeleceu-se como barbeiro, o que lhe permitiu valiosos contactos com as gentes de Lisboa que frequentavam Bucelas.

É neste contexto de adversidade que João Camillo Alves reconheceu o potencial dos vinhos da região de Bucelas e, servindo primeiro como intermediário e mais tarde como um visionário empresário, transformou as adversidades em oportunidades, projetando o nome Bucelas e os seus vinhos a nível mundial num período em que o setor começou a recuperar, com o surgimento de soluções como os porta-enxertos e novas técnicas de produção.

Assim surge, em 1881, a firma Alves & Freire, dedicada à compra e venda de vinhos, que, conjuntamente com o seu cunhado, beneficiava da visão estratégica de João Camillo Alves.

Os vinhos seguiam em carros de bois carregados com pipas dos brancos de Bucellas, abastecendo as casas de pasto e tabernas lisboetas. Em 1890, Alves & Freire cessam a sua atividade e João Camillo Alves decide avançar a título individual.

As primeiras décadas do século XX são de grande expansão a nível nacional e internacional, com estratégias vanguardistas para a época, que incluem vender o vinho em garrafas e a presença dos seus vinhos em feiras e concursos internacionais, chegando a arrecadar prémios, medalhas e distinções internacionais (1900, medalha de bronze na categoria "Vinhos e Azeites" na Exposição Mundial de Paris, e 1908, medalha de prata na Exposição do Primeiro Centenário na Abertura dos Portos do Brasil).

João Camillo Alves acaba por consolidar um grande património e uma vasta área de vinhas e quintas na região de Bucelas, assim como prestígio pessoal. Animados com os lucros da empresa, abrem armazéns e sede em Lisboa, na Rua Fernão Lopes.

A partir da década de 30 do século passado, são as gerações seguintes que tomam o rumo do negócio, adotando iniciativas inovadoras na área da enologia e do marketing.

É por esta altura que surgem marcas emblemáticas como Clarete, Romeira, Monte Serves e Dumonte, mais tarde associadas às Caves Velhas.

Exposição do Primeiro Centenário na abertura dos Portos do Brasil

Surgem marcas emblemáticas como Clarete, Romeira, Monte Serves e Dumonte.

Largo do Rego - “CAVES VELHAS – Comp. Port. de Vinhos de Marca”

Central de Cervejas

Por volta dos anos 50, a empresa decide expandir e adquirir a “Vinícola da Amadora”, empresa dedicada à distribuição de vinhos em Lisboa que, mais tarde, no início dos anos 70, altera a sua denominação para “CAVES VELHAS – Companhia Portuguesa de Vinhos de Marca”, empresa destinada à produção e comercialização de vinhos de qualidade, com notoriedade no mercado, e aposta na melhoria das suas margens de lucro.

Em 1971, as Caves Velhas são integradas na Central de Cervejas. Os anos seguintes são de grande agitação política e social.

Na pós-revolução dos cravos, Portugal vê-se envolvido na perseguição a dirigentes de empresas, e a empresa é ocupada pelos trabalhadores, afastando administradores e diretores.

Em 1989, é comprada a Quinta do Boição, originando vinhos brancos de grande qualidade. A Central de Cervejas, juntamente com as Caves Velhas, é adquirida pelo grupo cervejeiro colombiano Bavaria, sendo esta última vendida aos atuais acionistas em 2001 e integrada no grupo Enoport em 2005, juntamente com as Adegas Camillo Alves e as Caves Dom Teodósio.

As Caves Velhas mantêm fortes laços com a vila de Bucelas, e estes vínculos são visíveis na própria arquitetura local. Um exemplo interessante é o “Museu do Vinho e da Vinha”, no centro histórico de Bucelas, num edifício que pertenceu à família Camillo Alves, os antigos proprietários das Caves Velhas, e que remonta ao século XIX. Para além de ter servido como residência da família, o edifício também contava com uma adega e um armazém que foram agora revitalizados.

Quinta do Boição

“Museu do Vinho e da Vinha” - edif.  pertenceu à família Camillo Alves.

Outro vestígio arquitetónico que ainda se encontra em Bucelas são as antigas caves das Caves Velhas, transformadas e revitalizadas, que atualmente funcionam como um centro de envelhecimento de vinhos e uma loja, onde os visitantes podem participar em formações sobre vinho e fazer uma visita guiada pelas caves, sentindo o aroma e o calor dos preciosos néctares das Caves Velhas.

Apesar das mudanças, vendas e integrações, o espírito, o saber-fazer, as tradições e as marcas das Caves Velhas permanecem vivos, consolidando-se como um legado de prestígio e reconhecimento no setor vitivinícola em Portugal.

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